Sequestro, sequestration, embromation
01/03/13 14:55WASHINGTON — Os EUA viverão nas próximas semanas uma fase meio América Latina nos anos 80 — ou Grécia nos 2010 — em menor escala. Tratando-se da maior economia do mundo, porém, e estando ela desacostumada a essa situação, é de se esperar que a expressão “sequestro” rode manchetes dentro e fora do país.
“Sequestro” — ou “sequestration” em inglês, uma palavra que me parece tão inventada quanto “rebolation” — é uma espécie de confisco de verbas do governo federal. Segundo a lei, pode chegar a US$ 85 bilhões neste ano.
Foi criado por um dispositivo legal para ter a função de um cachorro bravo ao portão de uma bela casa: para intimidar quem ouse ultrapassar aquela linha. Sim, a ideia de enxugar gastos é ótima e tem de ser levada adiante, mas o tal do “sequestro” impõe, como punição para um Executivo e um Legislativo que não conseguem chegar ao menor dos consensos, que isso seja feito da pior forma possível.
Há divergências ainda sobre como seria essa forma, e qual seria seu peso e efeitos reais. Quem seguramente se dará mal são os funcionários públicos, que em muitas agências receberão férias coletivas forçadas de até 20 dias com suspensão do pagamento. O governo tem estrutura inchada? Pode ser. Mas este não é o jeito de resolver, até porque demissões não estão previstas.
O respeitado Escritório de Orçamento do Congresso, uma agência apartidária encarregada de produzir projeções e estatísticas para o governo, anunciou ontem que o corte não deve superar US$ 42 bilhões neste ano. É 0,28% do PIB dos EUA.
Isso porque há margem de manobra para os órgãos federais cortarem verbas que já não haviam sido previstas para este ano, ou lançar no futuro gastos que por ora só começam a ser feitos e que perdurarão. Sabe quando uma empresa, em vez de demitir, fecha vagas que estavam abertas para a contratação? Ou começa uma reforma e lança o gasto só quando ela fica pronta? É mais ou menos isso.
A ala mais estridente dos republicanos reclamou dos cortes que recairão sobre a Defesa americana, e os democratas mais ciosos protestam sobre o enxugamento de programas sociais. Economistas e analistas avaliam que tanto a Defesa dos EUA continuará a ser a mais bem financiada do mundo, de longe, quanto a previdência social (o “social security”), principal programa do governo, será largamente poupada.
Avaliações de organizações multilaterais e de bancos preveem um efeito econômico diluído que, embora ele possa engolir 0,6 ponto percentual do PIB neste ano (na previsão do Escritório de Orçamento do Congresso), terá um efeito sobre a redução do deficit, ao menos parcialmente, compensador.
A questão, portanto, é mais política do que econômica. Apertar os cintos é preciso, mas não podiam republicanos e democratas deixar a troca de acusações e costurar um pacote fiscal mais organizado e eficaz? O sistema de checks-and-balances (checagem e equilíbrio) entre Congresso e Presidência nos EUA é um modelo para o resto do mundo, mas desta vez parece ter se autossabotado.
Outra coisa interessante é notar como ambos os lados estão usando o discurso para culpar o adversário. Eu me lembro de crescer com ministros da Fazenda brasileiros usando frases como “remédio amargo, mas necessário”. Eu me lembro de ter ouvido ideias do mesmo tipo cobrindo a crise da Espanha e da Grécia.
E me lembro de haver um consenso, por parte de bancos sediados nos EUA, e de instituições financeiras sediadas nos EUA, de que a alternativa era pior. Estranho assistir aos EUA hoje se condoerem de terem de fazer o mesmo, numa escala muito menor. São dois pesos e duas medidas?
Além disso, já que o corte vai ocorrer mesmo, a menos que uma solução relâmpago que não surgiu em seis meses surja até 23:59 desta sexta, não seria melhor explicar ao público seu lado positivo ao invés de contar histórias de terror como têm feitos os deputados dos dois lados e, sobretudo, o presidente Barack Obama? Uma pesquisa do Centro Pew aponta que 60% dos americanos esperam um cataclismo econômico a partir de hoje. Isso é saudável para o ambiente político? Não me parece.
Tudo bem, é pimenta nos olhos alheios, e cortes transversais no Orçamento não são coisa simples. Mas o mercado internacional não fugirá dos títulos do Tesouro americano, tidos como os mais seguros apesar de tudo. Não há colapsos semelhantes ao de 2008 previsto. Não há a perda de credibilidade vista com o impasse sobre o teto da dívida em 2011, ou mesmo os riscos do abismo fiscal na virada deste ano. Não há risco de demissões em massa, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso.
Há, isso sim, uma enorme perda de confiança na capacidade americana de fazer política.
Outro “balão de ensaio” do Obama. Obama por sua vez para economizar US$ soltou todos os ilegais de prisões (HOW STUPID CAN YOU GET).
http://www.newsmax.com/Newsfront/Immigration-Detainees-released/2013/02/25/id/491967?s=al&promo_code=12937-1
Ao mesmo tempo o incompetente anuncia ajuda aos rebeldes da Síria.
Ajuda para um grupo que ninguém sabe do que é capaz, e com possibilidades de ser contra os EUA no futuro.
Obama é um Jimmy Carter in tecnicolor.
Sobre os cortes e os rebeldess sírios sou obrigada a concordar com você. Essa ajuda à Síria vai sair igual à da Líbia, com rios de armas no mercado negro alimentando outros conflitos.
Não, professor, engano seu. Para mim, o mais inábil de todos nesse caso é o Obama. Isso não isenta os republicanos de culpa, mas, afinal, nesse caso, *the buck stops here*, no presidente. Abs.
Mas cara Luciana, esse é o problema! Às vezes, o culpado é, mesmo, o mordomo. Obama é um presidente que recusa assumir os seus erros. os imputa aos republicanos com uma generosa ajuda da mídia. Ele não é afeito diálogo e, sim, ao confronto. Poder-se-á dizer que a culpa é dos radicais do Tea Party no Congresso por não haver acordo. Mas por Deus, Luciana, você deve conhecer melhor do que eu o quanto são moderados senadores republicanos como John McCain, Michael Mcconnell e Lindsey Graham. Chamá-los de radicais, culpando-os por não ter havido acordo no Senado para evitar esse sequestro é um equívoco muito grande, cara Luciana.
Professor, mas eu normalmente chamo o McCain justamente de moderado (tirando em um pe´riodo na campanha de 2008 quando ele não sabia que rumo tomar, mas o histórico dele é de moderado). Eu acho o Tea Party um problema, e acho que eles atrapalham a vida de todos no Congresso — inclusive dos republicanos). Isso, como disse, não exime o Obama de culpa. Eu concordo com a sua avaliação de que ~ficou fácil~ para o Obama culpar o Tea Party por tudo, e deixar de fazer coisas que são o trabalho dele. Abs.
Exato, Luciana! Sou conservador e, portanto, simpático ao Partido Republicano. Mas, acima de tudo, me entendo ser uma pessoa justa e, nesse sentido, não tenho problemas em criticar os republicanos e a direita, em geral, quando entendo que merecem a crítica. Acho que já dei provas disso nesse espaço democrático. Mas o que vejo, já há um certo tempo, é o presidente se revelando um grande demagogo que, como tal, não assume a responsabilidade de chamar para si a resolução do problema da dívida, convocando, com boa fé, democratas e republicanos para negociar; e não ficar, através de entrevistas, a jornalistas adredemente escolhidos, para criticar os republicanos. Em relação ao Tea Party, se o presidente e a mídia liberal o analisarem sem preconceito ideológico, verão que é um “movimento social fiscalista” que chamou a nação à responsabilidade fiscal – observação, em editorial, do WSJ. Como podemos criticar o objeto de existência desse movimento? Para mim é uma grande miopia moral criticar um movimento que quer interromper um processo de descontrole de aumento em progressão geométrica da dívida pública e elogiar ou, no mínimo, relativizar a crítica a quem, ideologicamente, não se importa com esse descontrole como é o caso do presidente Obama? Por Deus, Luciana, essa devastadora crise europeia, levando cidadãos ao suicídio, é de origem de descontrole fiscal. Os membros do Tea Party sempre se referem a isso. Como discordar e criticá-lo por isso?
Deus poderia ser generoso conosco, brasileiros, permitindo ou incentivando a que tivéssemos vários Tea Parties no Brasil, nas áreas da Saúde, Logística, Reformas Tributária e Administrativa, e, é claro, na Educação, produzindo seus representantes no Congresso Nacional focados nesses seus objetivos. O Tea Party é vítima de uma cultural e usual militância ideológica da mídia política mundial.
A situação está ficando cada vez mais intragável difícil e impossível de um diálogo entre os 2 partidos principais da política dos EUA. Hoje em dia mesmo Democratas estão notando que Obama está exagerando muito.
Vide artigo abaixo:
http://www.newsmax.com/Newsfront/obama-caddell-schoen-criticism/2013/03/01/id/492739?s=al&promo_code=12A45-1
Além do mais Obama está esbarrando em um assunto muito sério que é a mídia(que a Sra. deve conhecer a força da mídia). Até o momento a mídia tem sido “bias(parcial e pro Obama), mas ele começa a ameaçar a mídia e em especial veteranos como Bob Woodward do Washington Post.
Vide abaixo
http://www.newsmax.com/Newsfront/woodward-white-house-threat/2013/02/27/id/492369?s=al&promo_code=129B3-1
N.B.: A Mídia quando um reporte foi assassinado pelo o grupo de Al Capone, acabou a “lua de mel” entre “Big Al” e a mídia, e depois disso começou a sua(dele) queda como “Kingpin de Chicago”
Além do mais Obama não toma qualquer decisão sobre a economia esperando somente o momento de culpar os outros partidos sobre a mesma(economia).
Os cortes que ele fez foram inadequados e vai causar mais problemas na economia, e do outro lado da equação ele ainda envia o Secretary of State para ajudar os rebeldes Sírios que é um grupo com intenções indefinidas.
Luciana, descarta o outro e publica esse corrigido.
Há um cientista político brasileiro chamado Roberto Romano. Ele pegou em armas para lutar contra a ditadura militar, sendo, portanto, um homem de esquerda. Vou lhe contar como ele caiu nas minhas graças. O então PFL, partido da direita organizada do Brasil, em uma CPI, decidiu convocar um membro do PT para depor sobre denúncias de corrupção. Romano, entrevistado no programa Roda Viva, perguntado sobre essa convocação era um jogo baixo do PFL, ele surpreendeu – eu até diria que irou – a plateia de jornalistas e cientistas políticos outros que o estavam entrevistando ao dizer o seguinte: “Nós, cientistas políticos e vocês jornalistas, precisamos parar com essa cultural maldade ideológica em culpar – em quaisquer circunstâncias – à direita, quando sabemos que ela não tem culpa, sendo a culpa exclusiva da esquerda a qual, (apontando o dedo em movimento) aqui, todos são simpáticos”. Continuando, disse: “O PFL cumpriu o seu papel constitucional. Uma denúncia grave como essa não pode ficar sem esclarecimentos”. Pois bem, Luciana, analogamente, em relação a esse sequestro fiscal dos EUA, comparo o historicamente liberal, famosíssimo e respeitável jornalista, Bob Woodward, com o Roberto Romano, ao dizer, com todas as letras, que o presidente Obama é o único responsável por esse sequestro; que os democratas, tendo o comando do Senado, não aprovaram nenhum orçamento, rejeitando a discutir as duas propostas de orçamento da Câmara dos Deputados comandada pelos republicanos; e que Obama já teve, em 01/01/2013, a sua cota de aumento de tributos que queria, portanto, segundo ele, Bob, essa nova crise fiscal é realmente de responsabilidade exclusiva de Obama e dos democratas. Certamente, nessas últimas semanas, você, Luciana, deve ter lido, ouvido e assistido a entrevistas de Bob, falando sobre isso. A última, que assisti, ele criticou o terrorismo emocional pregado por Obama e os democratas, se por ventura houvesse esse sequestro, como se fosse um novo “Armageddon ou Apocalipse” viessem a ocorrer. Assim sendo, Luciana, digo que a minha crítica a esse seu artigo é devido ao grau de culpa que você conferi aos republicanos, sendo igual ao grau de culpa que conferi aos democratas por esse sequestro fiscal.
Professor Emilson Nunes Costa.
Sugiro a você, Luciana, publicar a relação dos gastos que os republicanos – em proposta ao Senado para negociar o fim do sequestro – acham supérfluos e não essenciais e, portanto, devam ser cancelados ou remanejados, por exemplo, para o orçamento do Pentágono.
Ola Luciana,
No meu tempo de Brasil, o termo que usavamos era encher linguica. Aquele famoso bla, bla bla. Hoje estamos tao norte americanizados(prefiro o termo America do Norte), que o termo usado pelos brasileiros agora e “embromation”.
Quando vc compara o que esta acontecendo nos EUA de 2013 ao Brasil dos anos 80(imagino que voce era uma adolescente na epoca) quase parei de ler sua coluna. Nao da sequer para comparar o que passavamos no Brasili naquela epoca(comecei os anos 80 com vinte anos) de inflacao galopante. Vivenciei todos os planos mirabolantes para conter nossos problemas financeiros. Nao vou nem discutir os problemas de corrupcao, sociais, raciais, etc. E como vc bem sabe nesta mesma epoca os EUA viviam seu grande “boom’ economico sob a regencia de Ronald Reagan.
E verdade que ha mais de 5 anos os EUA estao estagnados(assim como esteve o Japao nos anos 90), mas a qualidade de vida por aqui ainda e muito melhor do que a vasta maioria dos paises no planeta. Inclusive muito melhor do que o nosso Brasil que canta a toda hora que somos a 5a economia do planeta. Como se isto se revertesse em uma grande melhora na qualidade de vida de seus cidadaos.
A grande verdade e que os republicanos nao querem engolir mais 4 anos de Barack Obama. Voce viu o que fizeram com a nomeacao da Suzan Rice para secretaria de estado. E tambem como foi dificil a confirmacao do senhor Hagel(republicano) para secretario de defesa.
Nao querendo fugir muito do assunto, a verdade e que mesmo com este aperto financeiro, e esta queda de braco entre os republicanos e o presidente Obama, a vida media dos norte americanos nao mudara muito. E como vc ja deve ter lido, este “sequestration” e mais uma maneira(sordida) dos republicanos tentarem mostrar mais uma vez que o presidente e um enorme e perigoso bicho papao pronto para acabar com o famoso “American way of life”. O tiro saira pela culatra mais uma vez.
“Embromation” é o que a muita gente usa para se referir a palavras que se inventa quando se finge falar inglês, Edson. Tipo “rebolation”, que não existe. 🙂
Você tem razão em chamar minha atenção, mas não estou comparando o aspecto social nem estrutural da economia, só o contingencial — o momento de aperto fiscal. Representam coisas diferentes para psiques diferentes, claro. Mas são mecanismos similares. É curioso ver que a tal da receita do remédio hoje recaia sobre os países ricos. Desta vez, porém, não me parece que o “sequestration” seja algo arquitetado pelos republicanos. Foi costurado pelos dois partidos exatamente como advertência para que não caíssem na inércia. O Obama foi inábil Edson. Podemos discutir se um presidente republicano agiria de forma diferente — e eu duvido, mas isso e palpite. Mas quem transformou o sequestration em bicho-papão foi a Casa Branca. E eu concordo com você que, no fim das contas, ele representará muito pouco na vida do americano médio. A perda aí é de confiança política, não econômica. Abs.