A campanha de US$ 5 bi
04/02/13 17:47WASHINGTON – A eleição de 2012 nos EUA consumiu US$ 4,8 bi de dólares entre a campanha presidencial e as do Legislativo e levantou US$ 5,7 bilhões, segundo dados da Comissão Federal Eleitoral divulgados no fim da semana passada.
Em reais, dá, respectivamente, R$ 9,5 bilhões e R$ 11,3 bilhões, no câmbio desta segunda.
Números tão altos não encontram parâmetros em eleições anteriores: por causa de uma mudança na lei em 2010, um em cada três desses dólares — um total de US$ 1,6 bilhão — não veio de candidatos, partidos nem de comitês de campanha, mas de grupos de ação política que atuam nas bordas da fiscalização.
Os números da Comissão Federal Eleitoral (FEC), que incluem arrecadação e gastos de 1ë de janeiro de 2011 até 30 de setembro de 2012, também deixam clara uma tendência.
Grandes doadores que preferem manter sue nome em sigilo preferirão, em boa parte dos casos, doar para os grupos de ação política — conhecidos como PAC e SuperPAC — do que aos candidatos. Afinal, esses últimos são obrigados a listar seus doadores, os primeiros não.
A movimentação ficou óbvia no último ciclo eleitoral. Enquanto os PACs levantaram quase US$ 1,8 bilhão, a arrecadação dos comitês presidenciais caiu 25% (de US$ 1,4 bilhão em 2008 para US$ 1,04 bilhão na eleição passada), e os gastos encolheram 31% (de US$ 1,33 bilhão para US$ 923 milhões).
Na eleição do Legislativo o cenário é mais turvo. A arrecadação e os gastos dos candidatos recuaram neste ano em relação a 2010 (cerca de 10%), mas aumentaram sobre 2008 (quase 30%).
Os PACs, entre os quais o maior expoente é provavelmente o criado pelo estrategista republicano Karl Rove, podem doar para candidatos (e o fazem).
Mas a maior parte do dinheiro que obtêm é empregada, pelos dois lados do jogo político, no que chamamos de campanha suja: comerciais de TV e rádio com diferentes graus de veracidade denegrindo a imagem de um político não-alinhado ao que o grupo prega, seja na corrida à Casa Branca ou ao Capitólio.
O levantamento final da FEC, com todos os dados entregues pelos candidatos, traz mais coisas interessantes.
Mitt Romney (com o Partido Republicano) manejou melhor seu orçamento, encerrando o ciclo com US$ 383 mil em caixa e uma dívida de US$ 825 mil. Já Barack Obama e os democratas ficaram com uma dívida de US$ 21,5 milhões, contra US$ 4,7 milhões de reservas, calcula o think-tank Centro pela Política Responsável.
Entre os PACs, aqueles ligados a grandes empresas foram os mais ativos (US$ 306 milhões gastos), seguidos pelos criados por sindicatos (US$ 213 milhões), e bem à frente dos relacionados a entidades comerciais, cooperativas, empresas de capital fechado e associações.
Espantoso, porém, é que grupos que se declaram ªsem vínculosº para efeito legal — mas, graças às brechas da lei de 2010, não necessariamente o são — despejaram, sozinhos, US$ 802 milhões na última campanha.
tem um errinho ali no 2º parágrafo. Deveria ser em Reais em vez de US$
Obrigada, vou arrumar!
O mais legal foi o Colbert SuperPAC e toda a evolução da história.
Verdade. E eles ridicularizaram essa pseudo “falta de vínculos”. Abs!
Se Romney tivesse gasto mais, principalmente na pré-campanha no verão, teria terminado com uma dívida maior, mas poderia hoje ser presidente dos Estados Unidos. O fato de Obama ter gasto o dobro de Romney em anúncios de campanha entre julho e setembro deu ao candidato democrata uma vantagem sobre Romney da qual o republicano não conseguiu se recuperar apesar do seu “late surge” no início de outubro, que começou a desvanecer porém nas duas últimas semanas da campanha.
A chave da campanha do Obama, mais do que o gasto em si, foi a distribuição. Enquanto o Romney focou e determinados Estados (e nem sequer em todos os swing States), Obama fez campanha em todos eles. Eu lembro que na reta final eu contei quantos comitês de campanha o Obama tinha nos dez Estados-chave, e quantos o Romney tinha, e era quase o dobro (acho que há um post sobre isso em algum lugar do blog eleitoral). Abs.
Em termos mais gerais, o alto custo das campanhas políticas nos EUA se deve a dois fatores principais ao meu ver:
1) A inexistência de um “horário eleitoral gratuito” como no Brasil, o que obriga os candidatos a comprar espaço comercial na TV a preços de mercado (i.e. como se fossem anunciantes corporativos).
2) A duração longa das campanhas, especialmente no caso das campanhas presidenciais, que se estendem na prática por quase um ano contando as eleições primárias e a eleição geral.
Em alguns países, notadamente a Inglaterra, a propaganda política paga em rádio e TV é proibida havendo apenas “party election broadcasts” (PEBs) parecidos com o horário gratuito do Brasil, mas muito mais curtos. A propaganda paga em mídias impressas como jornais, revistas e outdoors é porém permitida. E, naturalmente, em países parlamentaristas como a Inglaterra e o Canadá, pela natureza do sistema, as campanhas para uma eleição geral são bem curtas também (de 4 a 6 semanas apenas entre a dissolução do parlamento e a eleição).
Em relação à possibilidade de participação de grupos “independentes” dos candidatos nas campanhas (o que é proibido no Brasil), trata-se ao meu ver de uma questão de liberdade de expressão com a qual eu concordo. É importante notar, porém, que na Inglaterra por exemplo, embora não haja limites para quanto alguém pode doar para um candidato ou partido, existem limites legais para quanto um partido político, um candidato ou um grupo independente podem GASTAR na campanha. Nos EUA, na verdade há limites para quanto pessoas físicas podem doar DIRETAMENTE para candidatos ou partidos, mas, por causa da decisão da Suprema Corte, nã há limites para quanto se pode doar para um PAC independente. Nem tampouco há limites para quanto partidos, candidatos ou PAC’s independentes podem gastar.
Então, João, sua análise é precisa. Aqui, lembremos, além do gasto com a campanha em si há o gasto com as primárias. O problema é a falta de limites. PACs e Super`Pacs também têm limites de doação, mas podem gastar o quanto quiserem com propaganda “independente”. Deveria haver um limite de gasto. O lobby em si não é uma coisa negativa (concordo com você que campanhas sejam parte do exercício da liberdade de expressão), o problema é quando as coisas não são feitas às claras. Os PACs não precisam sequer revelar quem são seus doadores (algo que os candidatos precisam). Acabaram com o soft money, mas criaram algo ainda pior. Abs.
Aqui no Brasil não estamos tão atrasados como possa aparentar, pois temos também os nossos Pacs (vulgo:Programa de aceleração do crescimento), porém mais estruturados, pois funcionam além campanha eleitoral.
Abs.
PS.
Luciana, me dê o prazer de seguirmos juntos no twitter.
@amennabarreto
andré, o meu é @lu_coelho.
Quado será que as pessoas irão ser convencidas de que alguém é digno de seu voto sem que o dinheiro precise ser empregado para que os “bons rostos” sejam vistos? afinal; até para que o maior do samaritano seja eleito, este mesmo investe para que se saiba dele. Ora; os bons homens não são fáceis de ser visto?
Os ensinamentos que levam ao maior do bom senso diz que o que uma mão faça, que a outra não o saiba. assim são “patrocinados” os grandes homens”.
erivaldoresende.blogspot.com.br