Uma posse menor
21/01/13 08:01WASHINGTON — A capital americana está cheia. Há filas nas portas dos restaurantes; as pessoas se acotovelam em ruas de compras; ônibus lotam e hoteis e aeroportos estão mais movimentados do que de costume.
Foi um fim de semana prolongado — hoje é feriado de Martin Luther King nos EUA. Mais do que isso, é o dia da segunda posse de Obama.
Essa movimentação toda, porém, não se compara à de 2009. Naquele ano, foram 1,8 milhão os presentes na posse do primeiro presidente negro dos EUA, uma massa movida pela esperança e pela expectativa.
Desta vez, após quatro anos de crise, com boa parte das promessas quebrada e muitos fios de cabelo branco a mais na cabeça de Obama, a estimativa é que a multidão fique entre 500 mil e 700 mil. Não é desprezível, claro, mas é (na média) um terço do que foi da última vez.
Chama a atenção a predominância de negros (Washington já é uma cidade com população negra grande) e de jovens entre os turistas da posse. Esses últimos parecem, muitas vezes, fazer parte de excursões escolares que combinam o feriado ao evento cívico. De qualquer forma, são parte do núcleo-duro da coalizão que elegeu Obama — faltam só os latinos.
Como americano é um bicho patriota e empreendedor, a multidão encolhida não desanimou os lojistas: toda sorte de bugiganga com a cara do presidente está sendo vendida: camisetas, moletons, bonecos, buttons, sacolas, canetas, ímãs, jogos… e uma amiga reclamou não ter encontrado um incenso (!) presidencial de que tinha ouvido falar.
Os cartões de metrô comemorativos, com a cara do presidente, estão se esgotando. O que encalhou foram os (caros) ingresso dos bailes.
Não dos dois bailes oficiais, já que dos dez de 2009 eles encolheram para apenas dois: o primeiro, apenas para membros das Forças Armadas; o segundo teve ingressos vendidos pela internet a US$ 60 que se esgotaram em poucas horas no último dia 7, quando foram oferecidos ao público.
Mas no fim de semana da posse, a capital costuma abrigar dezenas de outros bailes, que promovem do orgulho texano a causas ambientais, passando por recepções de embaixadas, eventos com celebridades e baladas alternativas. Ontem, os ingressos para um desses eventos teve o preço cortado pela metade e era oferecido em um site de compras coletivas.
Reeleições tradicionalmente têm posses mais modestas do que eleições, mas o contraste de 2009 com hoje é tanto que parecem se tratar de presidentes diferentes. Os organizadores disseram que o evento mais contido respeita o momento pelo qual passa o país (acredite quem quiser — a crise em 2009 não era mais grave? isso não silenciou a fanfarra).
Resta ver como o discurso de Obama encompassará esse momento. Em 2009 ele já havia sido sóbrio, sem a aura quase messiânica de sua primeira campanha; é de se supor que desta vez o presidente seja ainda mais duro e mais comedido nas promessas. Não casaria bem com a imagem que o presidente criou para si, porém, adotar um tom soturno; eu ainda aposto que a palavra esperança estará lá.
(Para quem quiser acompanhar a cobertura ao longo do dia, estarei ~tentando~ participar do live blogging da Folha, com atualizações direto do Capitólio, do National Mall e do baile da posse)
A pior coisa que aconteceu nos ESTADOS UNIDOS nesses ultimos tempo foi a reeleiçao do Obama.
Acho que vc deveria corrigir a sua frase
“Como americano é um bicho patriota e empreendedor” para “Como os Americanos são empreendedores ou um povo empreendedor”
Obrigado
É força de expressão, Joel, ninguém está chamando americanos de animais, por favor. Abs.
Tenho a percepção de que o Obama é uma pessoa com intenções relativamente boas (não tão boas, do contrário não seria presidente). Porém, como se sabe, a política é um sistema fechado onde o que realmente manda é o poder econômico. O dinheiro compra até consciências. De todo modo, desejo sorte ao Obama neste segundo mandato. Do sucesso dele dependem milhões de pessoas ao redor do mundo.
E parabéns por mais este texto claro, lúcido, que informa sem rodeios. Por isso não perco seus posts.
Superobrigada, Tiago!
O Obama vai pegar um belo abacaxi. Esse segundo mandato será mais complicado que o primeiro. Com medidas tentando proibir a vendade fuzis de guerra para a população ele bate de frente com os republicanos e clube do rifle. Nao creio que irá conseguir entrar em vigor com essa lei.
Vai mesmo.
Ele é responsável pelo menos por 1/3 desse abacaxi, e o Senado totalmente Democrata é responsável por 3/3 desse ananás.
Há uma grande diferença entre prometer e cumprir promessas. Na primeira vez eleito ele não cumpriu. Existe um expressão nos EUA que “If you fool me once it’s shame on you, but if you fool me twice it’s shame on me”. O que quero dizer é que se você me engana a primeira vez é vergonhoso para você, mas se você me engana a segunda vez é vergonhoso para mim. Eu tenho a impressão que muita gente vão se sentir envergonhados. O homem é um bom orador e bom DEMAGOGO.
É claro e lógico que ele não quer compartilhar com os outros partidos, e ao mesmo tempo não quer cortar despesas e continuar gastando.
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Ele é populista mesmo. Mas a impressão que tive no discurso é que ele perdeu as amarras para falar e para agir, para o bem e para o mal. Abs.