Natal à Americana
25/12/12 22:31ST. MICHAELS, MARYLAND – Ainda em tempo, que todos os leitores do blog tenham muito a festejar nessas festas de fim de ano, e que 2013 traga boas surpresas.
Saindo um pouco da política, e cumprindo o que prometi no post inaugural, fui dar uma volta neste fim de semana em St Michaels, uma cidadezinha costeira de Maryland a mais ou menos duas horas de Washington fundada em 1804 que parece ter sido desenhada por um ilustrador infantil.
Em 2010, data do último censo, St Michaels tinha 1.029 habitantes.
É um daqueles lugarejos de conto, com uma “Main Street” cortando a cidade e ruazinhas vicinais que brotaram a partir de uma igreja episcopal aberta ali em 1677.
Há dois supermercados, três imobiliárias, uma rua repleta de restaurantes (a indústria pesqueira, sobretudo de ostra e caranguejo, ainda é vital para a cidade) e uma fileira de lojas coloridas oferecendo toda sorte de quinquilharias sob o nome genérico de artesanato. Há também uma firma de administração de investimentos e um museu náutico, lembrança de quando os estaleiros de pequeno porte sustentavam a economia local.
As casas quase sempre são brancas, pintadas caprichosamente e adornadas com floreiras e outros floreios. Não há muros; não se vê quase que nem as plaquinhas de “não invada”, tão comuns em propriedades americanas.
Na entrada, a cidade se gaba de ter “iludido os ingleses” — dizem que em uma tentativa de aniquilar o posto avançado na baía de Chesapeake em 1812, após uma sessão de troca de tiros, os forasteiros desistiram ao verificarem que as luzes estavam todas apagadas e acreditarem que ninguém mais sobrara vivo.
Dick Cheney teve casa por ali, Donald Rumsfeld tem uma fazenda próxima (história interessantíssima, aliás, é a mesma de onde o abolicionista Frederick Douglass fugiu ainda quando escravo — e não, a fazenda eu não visitei). Mas não vi nenhum dos dois circulando. Não vi, aliás, quase ninguém circulando, apesar de a cidade estar toda arrumada para o Natal, como se fosse um destino típico.
O bacana é que não é.
Com tantas cidades que parecem terem saídas do filme “O Show de Truman”, a genuinidade de St Michaels, mesmo com suas casas cor-de-rosa e amarelas, seu único posto de Correio, sua igreja com presépio no gramado e seu posto de bombeiros recém-pintado são um alívio (quem já foi à praia nos EUA e viu os grandes estacionamentos de asfalto; ou as passarelas de madeira milimetricamente planejadas para parecem qualquer lugar não-especificado, sabe do que eu estou falando).
No ano passado, em uma visita não-planejada, fui parar ali em um salão da escola local, que dobrava como associação comunitária, e promovia leilão de casinhas construídas por crianças com pão-de-gengibre (algo que lembra vagamente nosso pão-de-mel, uma tradição de Natal por aqui). Difícil ver algo mais Americana. E reconfortante pensar que ainda existam cenários assim por aí.
Não se irritem, que este é um post nonsense mesmo, um pouquinho do cotidiano americano que não sai no jornal, um pouco da não-urgência, da não-política, da contemplação.
É isso que eu desejo aos leitores no próximo ano, conservadores, progressistas, libertários, independentes, socialistas, o que sejam: tempo para respirar e contemplar, como o Papai Noel gaiato ali de cima, encontrado às vésperas do Natal em St Michaels.
Bela narrativa! A foto ajudou muito, mas mesmo sem ela eu me vi andando pela “main street” da pequena St. Michaels, apreciando todo esse cenário de coisinhas típicas e simples de que estamos tanto precisando por aqui nessa balbúrdia de carros e de gente, todos extremamente apressados para chegar a nenhum lugar que lhes dê saisfação, sossego e paz real.
Que bom, Benny, era essa a ideia! Abs e feliz ano novo!
Luciana…mto bom ler seu artigo….suave e pleno de delicadeza de alma…Obrigada. Feliz Natal
Legal, Edma. Às vezes é bom trazer algo não-político ao noticiário 🙂 Feliz Natal, feliz 2013!
Que post gostoso de se ler! Realmente, andamos tão atordoados com crises econômicas, políticas, corrupção, violência, que, às vezes, nos esquecemos de nos dedicar ao prazer de ver ou ler algo sobre lugares, pessoas ou histórias que valem os 5 minutos. Parabéns pelo post, muito bem redigido.
Em tempo, boas festas em terras americanas!
Boas festas, Tiago! Tomara que em 2013 todos tenhamos mais tempo para as coisas bacanas que passam despercebidas! Abs.
Luciana, muito legal este teu post. Parece que você encontrou um pouco da inocência perdida da América. Foi bom ler algo que não falava de política e de crises financeiras. O mundo não vive apenas disso. Como professor de História, sei o quanto é importante o cotidiano para o estudo desta matéria. Um excelente 2013 para você.
Um 2013 incrível para você também, Otávio! Pois é, acho que nossa visão de mundo seria mesmo muito mais rica se prestássemos atenção aos detalhes do cotidiano, não é? Abraço e boas festas!
Pena não ter encontrado gente pelas ruas. Seria interessante conhecer um pouco dos habitantes dessa cidadezinha…
Abraço e um ótimo 2013!
Pois é, Vera, o papai-noel estava tão contemplativo que achei que seria um tanto invasivo puxar conversa, hehe. Ótimo ano para você também!
Caríssima Dna. Coelho, Um 2013 com menos saudade e cheio de respiro e contemplação para toda a família Coelho Garcia!!
Menos saudade é bom 🙂 . E mais shows, também!